A QUESTÃO HABITACIONAL

Para não me sentir muito alienado em relação aos problemas que assolam as sociedades, resolvi em minha última caminhada, sob tempo frio e nublado, refletir sobre a grave questão da falta de moradias, que levou à criação do MST - Movimento dos Sem Teto, que tanto esquenta a cabeça de prefeitos de grandes cidades.
Mas como eu estou pouco me lixando pros problemas urbanos, virei o meu foco para a questão da habitação dos pássaros.
Dediquei-me a dois grandes arquitetos. O primeiro foi o guacho (ou guaxo).
Os da minha geração certamente ouviram sempre de suas mães o seguinte comentário: 
- O seu quarto está mais bagunçado que um ninho de guacho...
Realmente em termos de estética, não tem nada a ver, mas comenta-se que o pássaro faz o ambiente onde deposita os ovos e cria os filhotes, dentro dessa bagunça, mas somente ele e a fêmea sabem o caminho para chegar até lá.
Dois moradores daqui de Belisário comentaram em relação à resistência da obra. É tarefa difícil destruir um ninho deste. O que me intriga é saber come eles começam a fazer o ninho. Onde amarrar os primeiros gravetos?
A minha pesquisa, no entanto, está capenga, Eu não sei identificar o tal guacho. Pedi auxílio ao primo Renato Sigiliano, que me mandou um link muito legal da Enciclopédia dos Pássaros do Brasil 


Lá constatei que o pássaro tem vários nomes, dependendo da região, e também vi guachos distintos, como este que aparece abaixo.
Sobre ele pude retirar os seguintes comentários:

"Constrói ninhos enormes com gravetos (razão do nome comum). Os gravetos são relativamente grandes para o tamanho do passarinho. O casal atua em parceria na construção da casa, que será utilizada durante todo o ano pelos dois e pela ninhada (mesmo após voar) como local de abrigo. Ao terminar o primeiro ninho, o casal continua colocando material e construindo outros, em seqüência. Com isso, o galho de apoio começa a pender e a ficar coberto de material, destacando-se na paisagem. Em casos extremos, o ninho chega a 2 metros de comprimento. A câmara incubatória é forrada por grossa camada de penas, paina, etc., de formato esférico. O ninho geralmente localiza-se em árvores isoladas, na extremidade de galhos flexíveis, que acabam por vergar com o excesso de peso. Sua construção pode ocorrer com a participação de todo o grupo e não apenas do casal. Põe 3 ovos."

Acho que este não é o nosso daqui da região. Vou pesquisar.


Outro arquiteto Fabuloso é o joão de barro. 
Aqui eles fazem um condomínio.
Segundo ouço, eles têm o cuidado de fazer a porta de forma mais favorável em relação às chuvas.
Vejam os comentários tirados da Enciclopédia dos Pássaros do Brasil:

"Juntos, o casal constrói um ninho interessante, em formato de forno de barro, o qual pode ser facilmente identificado no alto de árvores e postes em regiões campestres. No interior do ninho há uma parede que separa a entrada e a câmara incubadora, construída para diminuir as correntes de ar e o acesso de possíveis predadores. Utiliza como matéria-prima o barro úmido, esterco e palha, cujas proporções dependem do tipo de solo (se arenoso, a quantidade de esterco chega a ser maior do que a de terra).
Não utiliza o mesmo ninho por duas estações seguidas, parecendo realizar um rodízio entre dois a três ninhos, reparando ninhos velhos semi-destruídos. Quando não há mais espaço para a construção de novos ninhos, o pássaro o constrói em cima (até 11) ou ao lado do velho.
A construção do ninho demora entre 18 dias e 1 mês, dependendo da existência de chuvas e, portanto, de barro em abundância. O ninho pesa em torno de 4 quilos e às vezes ocorre a construção de vários deles, sobrepostos (até 11), em anos consecutivos. Põe de 3 a 4 ovos, a partir de setembro e a incubação dura de 14 a 18 dias. O casal chega sempre em posições diferente da árvore, hora por cima, hora por trás, esquerda ou direita. O casal, além de revezar na construção, em alguns momentos dividem tarefas, sendo que um fica no ninho ajeitando o barro e o outro traz o material."

O bichinho gosta de um flash. Estava preparando para fotografar ele logo saiu da casinha
Já que o assunto á pássaro,olha que maravilha este vermelho que acabei de fotografar em meu quintal.
Seria uma "saíra"?

Comentários

  1. A primeira vez que vi um ninho de guacho eu era criança e estava com o meu pai. Foi ele que me explicou o que era aquilo pendurado no galho da árvore. Fiquei um longo tempo pensando sobre a engenhosidade do bichinho. As primaveras passaram, meu pai... um dia estava com o meu filho em Belisário e mostrei pra ele um ninho de guacho... fiquei pensando, será que algum dia o meu filho vai mostrar um ninho destes para o filho dele? Tomara... sabe o que eu acho mais legal nesta história toda? É que se o filhotinho de guacho perder os pais, vai crescer e, sem que ninguém lhe ensine, vai construir a casinha do mesmo jeito que os seus pais. Ou seja, ele já nasce sabendo.
    Renato Sigiliano

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  2. Renato: Li um artigo muito interessante do teólogo/educador Rubem Alves onde ele aborda que a educação deve ser útil. Que a escola deve levar a criança a sonhos. Para ilustrar ele cita o guacho (guaxo).
    Veja o resumo que fiz do texto e a matéria completa no link:

    Sonho é uma coisa que não existe no mundo de fora, mas existe no mundo de dentro. .....
    Acho que os bichos sonham. Olho para um árvore. Não vejo nada de extraordinário. Passado um mês, passo novamente pela mesma árvore. Lá está um objeto fantástico, um ninho de guaxo. O ninho de guaxo tem forma de jaca. É tecido em volta de um ramo pendente com pequenos galhos entrelaçados. Pergunto-me: Como foi que o guaxo aprendeu a construir aquela obra de arte? Quem lhe ensinou?
    Respondo: O guaxo construiu o ninho do lado de fora porque ele já existia virtualmente do lado de dentro. Aquele ninho era seu sonho.........................
    O guaxo trabalhava "na esperança". Ele não sabia disso com a cabeça. Mas seu corpo sabia. Há muitas coisas que o corpo sabe e a cabeça não.
    Que tenho de fazer para construir uma casa? É o sonho que faz pensar. Sem sonho não há pensamento.
    .........
    Para isto existem as escolas - Para fazer sonhar e fazer pensar. Do sonho e do pensamento surge a obra. No caso do guaxo, o sonho a ser tornado realidade era o ninho. .........
    Imaginem agora que o guaxo foi à escola para aprender arte. E que lá tivesse aprendido a selecionar e a cortar os galhos, bem como a trançá-los, tendo sempre tirado as maiores notas nas avaliações. Só que ninguém lhe falou sobre o ninho. Ninguém lhe disse que aquelas artes serviam apenas para realizar um sonho. Pobre guaxo. Nunca sonhou um ninho. Passou o resto da vida cortando galhinhos e entrelaçando-os. Mas galhos solitários não fazem ninhos.
    ............
    É assim, pelo poder do grande sonho, que os gravetinhos esparramados podem se juntar para construir um país. Afinal de contas, o país é o nosso ninho de guaxo.

    http://isabellalage.blogspot.com.br/2011/02/do-ninho-do-guaxo.ht

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  3. Sem nenhum demérito às demais matérias do EMBELISARIO, gostei particularmente desse programa habitacional dos "emplumados". Também eu fico indignado de como os guaxos conseguem iniciar o trabalho de fixar gravetos num galho pendente. A competência do arquiteto joão-de-barro já me chama a atenção há mais de 60 anos. E eles fazem todo esse trabalho "pensando" na segurança da prole. A Natureza merece mesmo ser escrita com N.
    Em tempo: o vermelhinho do quintal é um Chau Baeta. Ele emite esse som (tchau), geralmente em vôo.

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  4. Prezado Cleber,
    Quero lhe mandar um arquivo sobre o joão-de-barro mas percebi que não tenho seu e-mail particular. V. pode me enviá-lo? Parece que "arquiteto" não trabalha aos domingos.

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  5. Cléber,

    Adorei essa postagem, o nome desse pássaro vermelho é tié-vermelho.
    Esse pássaro é muito bonito...

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  6. Pelo visto no google, depois dessas dicas, é o mesmo chau baeta ou tié vermelho (tié sangue).
    Obrigado

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  7. E vocês sabiam que o menor periquito brasileiro, o tuim, costuma tomar a casa do joão-de-barro? E ninguém da família do "joão" contesta, pois a valentia do pequeno tuim vem de ser barulhento e arruaceiro. Brigar com ele é desmoralizante...

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