DE PARIS PARA BELISÁRIO

Do que você se lembra ter acontecido ou sido feito no Brasil no ano de 1686?
Provavelmente não lembrou de nada, nem de ninguém. Nosso Brasil ainda era colônia portuguesa, a economia se resumia ao extrativismo de madeira e a cana de açúcar produzida era exclusivamente para ser exportada para Portugal e a mão de obra era escrava, que chegava em abarrotados navios negreiros. 
Enquanto neste período as coisas iam bem devagar na colônia portuguesa, a Europa vivia um momento de grande efervescência pela propagação, especialmente na França, das idéias liberais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que vieram a ser o grande adagio da Revolução de 1789, capitaneada por Napoleão Bonaparte.
Prova dessa agitação está no fato de no ano de 1686 a cidade de Paris já contar com dezenas de teatros, universidades, óperas e restaurantes.
Eu e minha esposa fomos designados pelo EMBELISARIO para conhecer, e relatar a experiência, nada menos do que o restaurante mais antigo de Paris, fundado no distante ano de 1686, chamado Le Procope. Isso mesmo, 1686!!!! Olha aí a placa:
Enquanto a colônia portuguesa ainda se resumia à chegada de escravos para trabalharem na extração de madeira, em Paris os Aristocratas e Burgueses assistiam operas e se deliciavam no Le Procope, por exemplo, que incrivelmente continua em pleno funcionamento até hoje, 327 anos depois. 
As instalações, decoração e também algumas receitas são as mesmos da época da fundação,  transformando uma refeição em uma viagem na história (só espero que os ingredientes não sejam assim tão velhinhos).

Um parêntese: reza a lenda que Napoleão Bonaparte, assíduo freqüentador do estabelecimento, quando ainda não era imperador da França se socorria do famoso fiado, e deixava seu chapéu como garantia do pagamento. 
Assim como Bonaparte e o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt,  optei por degustar um dos pratos servidos desde a inauguração do restaurante, o tradicionalíssimo "coq au vin", que quer dizer "Galo ao vinho".

                    
Além da experiência histórica e gastronômica, pedir este prato foi também uma forma, bem injusta, é verdade, de comemorar e homenagear o nosso Galo, finalista da Libertadores da América e que, diferentemente do seu colega que me foi servido ao vinho, resistiu bravamente aos seus algozes.
Foi tudo muitíssimo agradável e saboroso, mas agora é preciso voltar pro Brasil e trabalhar pesado para pagar as contas que estavam penduradas pelo Napoleão, que lá deixou seu chapéu, e que me foram cobradas com juros de 300 anos.



De Paris, o enviado do EMBELISARIO, André Paradela (que conseguiu esse importante cargo só porque é filho do chefe).

Comentários


  1. Ótimo relato ! O ruim, André, é que vejo que você voltou sem chapéu... se precisar de ajuda, tenho aqui um restinho de francos franceses. Estão muito velhos, mas como lá quase tudo é mesmo antigo, podem servir. À sua disposição, contanto que você e Mariana nos devolvam o casal "roubado".

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